A obesidade é atualmente um dos problemas de saúde pública que mais nos preocupa. Em parte por seu aumento nas populações e todas as morbidades que acarreta, sendo difícil corrigir todos os seus fatores de risco. Nos Estados Unidos cresceu 48% nos últimos 15 anos, anulando os ganhos de saúde atingidos pela redução de 20% do tabagismo sobre o mesmo período de tempo. No Brasil, a obesidade aumentou entre 1989 e 1997 de 11% para 15%, sendo maior no sudeste do país e menor no nordeste. Por outro lado, muitas vezes não considerados na lista de fatores de risco para a obesidade, os medicamentos podem estar contribuindo para o aumento da circunferência da cintura da população, conforme artigo publicado pelo grupo do Dr. Cheskin e colaboradores no South Medical Journal.
Ao contrário de uma dieta pobre ou falta de exercício, os medicamentos, por si só, não são um caminho rápido para a obesidade. Eles contribuem, desfavoravelmente, com os vários esforços de uma pessoa na modificação do seu estilo de vida.
Várias classes de medicamentos atuam no sistema nervoso central, alterando a região do hipotálamo e os centros de saciedade e da fome através de mecanismos ainda não totalmente esclarecidos. Medicamentos podem alterar a quantidade e tipo de alimento que uma pessoa escolhe, provavelmente perturbando o equilíbrio e aumentando o apetite. Tais interações alimento-droga são pouco descritos na literatura médica.
As discussões mostram que médicos hesitam em informar aos pacientes sobre o potencial dos medicamentos para alterar o apetite com receio que o paciente conclua, erroneamente, que apenas a droga prescrita é responsável por seu ganho de peso e, portanto, não dê a devida importância para a modificação do estilo de vida.
Em contrapartida, discutir abertamente os potenciais efeitos de um possível aumento de peso das medicações traz também vantagens. Por exemplo, pacientes obesos com muitas morbidades associadas, tendem a tomar vários remédios. Claramente, quanto maior o número de remédios tomados, potencialmente maior a possibilidade de interações medicamentosas indesejáveis, incluindo aqueles que influenciam no aumento do apetite. As crianças e os indivíduos com diagnósticos de doenças mentais são outras populações a risco.
São inúmeras as categorias de medicações que favorecem o acúmulo do tecido adiposo. É necessária investigação sobre a forma como medicações concomitantes podem interagir para causar ganho de peso, identificar aqueles que funcionam sinergicamente para promover obesidade e integrar ações que ajudem a orientar a prática clínica.
Entre os vários exemplos que podem ser os “vilões silenciosos”, cada um deles tem um mecanismo de ação distinto – e ainda não totalmente esclarecidos, encontram-se: medicações para o tratamento do diabetes do tipo 2 (insulina, sulfoniluréias, tiazolidinedionas ), antihipertensivos (diuréticos tiazídicos, diuréticos de alça, bloquedores de canal de cálcio, beta bloqueadores), antihistamínicos, hormônios esteróides, anticonvulsivantes, medicações psicoativas. Deve-se considerar que não são todos os representantes destas classes de remédios que tem o potencial obesogênico. Há também a avaliação médica sobre o benefício imediato ou a curto e médio prazo no controle de um quadro clínico do qual estas medicações ainda são as escolhas principais. Não se trata de não prescrever, trata-se de avaliar as possibilidades de minimizar o aumento do peso.
A prevenção é (e sempre será) uma forte aliada contra o ganho de peso pelo uso de medicações: comer mais lentamente e limitar a ingestão calórica; permanecer bem hidratado com bebidas diet / light; não pular as refeições, mas não abusar dos lanches noturnos; escolher os alimentos que atendem a ingestão diária recomendada de fibras, legumes e frutas, e evitar alimentos que contêm componentes altamente processados de gorduras, açúcar e outros carboidratos refinados.
Informar os pacientes sobre a desregulação do apetite pode levar a uma decisão conjunta na escolha de outra medicação, usar uma dose mais baixa, ou modificar os fatores ambientais. Esta tomada de decisão compartilhada pode melhorar a adesão do tratamento e os próprios pacientes prevenidos tornam-se capazes de reconhecer um aumento na ingestão calórica e sentem-se motivados a tomar as medidas preventivas antes do ganho de peso ocorrer.
Medicações que aumentam peso: o que sabemos disso?
setembro 9, 2011 por draglauciaduarte
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