O risco de glaucoma está associado aos problemas de tiróide, diz trabalho americano
A associação entre as doenças tiroidianas e o desenvolvimento do glaucoma (aumento da pressão intra-ocular) é um assunto importante, dada a alta prevalência de ambas as condições, na população em geral. Estudos, baseados em grandes amostras clínicas, seguem pesquisando, mais definitivamente, se as disfunções tiroidianas exacerbam os danos do glaucoma.
No hipertiroidismo da Doença de Graves, a doença oftalmológica leva a inflamações da musculatura ocular e gordura orbitária. Pode ocorrer a expansão de tecidos e partes moles do olho e a órbita não conseguir acomodar-se a esta nova situação. Na tentativa de adaptação, ocorre a protusão do globo ocular (conhecida como proptose ou exoftalmia), mas é uma tentativa de ‘descompressão’ espontânea e limitada, que, ao evoluir para casos mais graves, resulta em ceratite, úlceras por exposição, limitação da motilidade ocular. Também este aumento do volume orbitário, resultado da contração da musculatura extra-ocular contra a adesão intra-orbital ou congestão da órbita, pode causar diminuição no retorno venoso e glaucoma.
No caso do hipotiroidismo, há o acúmulo de substâncias chamadas mucopolissacárides (ou glicosaminoglicanos e hialunônicos), responsáveis por carregar a água que estava no interior das células para compartimento fora delas, resultando no edema (‘inchaço”), característico desta doença. O excesso destas substâncias também ocorre dentro da trabécula (tecido esponjoso e fino do olho, que drenam o líquido que preenche as câmaras oculares, ou humor aquoso). O humor aquoso não é expelido na mesma quantidade em que é produzido e este excesso vai causar o aumento da pressão intra- ocular, afetando, progressivamente, a parte mais frágil do olho – o nervo óptico.
Há muitos mecanismos propostos pelos quais as doenças tiroidianas e seu tratamento afetam o desenvolvimento do glaucoma, afirma o Dr. J.M. Cross, da Universidade do Alabama, em Birmingham. O trabalho foi publicado por ele e sua equipe no British Journal of Ophthalmology com o objetivo de examinar a associação entre a história de problemas tiroidianos e glaucoma, referida pelo próprio paciente, em um estudo demográfico americano (US-based 2002 National Health Interview Survey), envolvendo 12.376 indivíduos.
A prevalência geral de glaucoma em toda a população estudada foi 4,6% e a prevalência geral de problemas tiroidianos foi de 11,9%. Nos indivíduos com problemas tiroidianos, 6,5% afirmavam também a associação com glaucoma, permanecendo significativa, mesmo depois de realizados os ajustes estatísticos para verificar as diferenças entre idade, sexo, raça e tabagismo. As limitações deste estudo foram: a confiabilidade da informação fornecida pelo próprio paciente, a falta de discriminação sobre o tipo de glaucoma e/ou a classificação exata do problema tiroidiano, bem como a severidade e tempo de duração destas doenças, a inabilidade em estabelecer a relação temporal entre o problema tiroidiano e glaucoma, a falta de informação sobre seguimento e tratamento dado aos pacientes.
A partir destes resultados, o estudo sustenta a hipótese de que desordens tiroidianas podem aumentar o risco de glaucoma, mas as pesquisas devem continuar, avaliando os potenciais mecanismos de ação e verificando se o tratamento para o problema tiroidiano também reduziria, subseqüentemente, o risco para o glaucoma.